A actual crise pandémica levanta muitos problemas e ainda mais interrogações quanto ao futuro próximo do bridge ao vivo, seja quanto ao recomeço da vida normal dos clubes, seja no que respeita ao bridge federado.
Para além da sustentabilidade financeira dos clubes e da própria FPB estar em sério risco, muito mais são as interrogações a carecer de resposta:
1. Estando reunidas as condições para o regresso a uma relativa normalidade em data que está longe de poder ser definida, como será o futuro onde, pelo menos a curto prazo, nada poderá ser como antes?
2. Como vão poder sobreviver clubes e FPB com uma mais que previsível quebra de frequências e, consequentemente, de receitas?
3. Estando a época 2020 seriamente comprometida, senão na sua totalidade pelo menos em boa parte, como pensar a época 2021 atendendo a que as já difíceis condições em que sobrevivemos podem agravar-se substancialmente?
4. Parece cada vez mais certo que o distanciamento social veio para durar, pelo menos até à chegada da vacina. Assim sendo, parece também evidente a necessidade de repensar as provas oficiais em função do espaço disponível para as realizar.
5. Tenho muitas dúvidas sobre a possibilidade de utilização do online para a realização de provas oficiais, pelo menos com as ferramentas actualmente disponíveis. Mas também não tenho muitas dúvidas de que nada ficará como antes e que precisamos de encontrar novos caminhos para a modalidade.
6. A discussão sobre estes temas tem de envolver todos, sem restrições e de espírito aberto: organismos oficiais, clubes, árbitros, formadores e praticantes.
7. Este espaço está disponível para receber todas as opiniões. Muitas são as formas de pensar a modalidade, mas é importante focarmo-nos no essencial que é comum a todos: a nossa paixão pela modalidade.
Aproveito a oportunidade para deixar aqui algumas informações sobre as medidas que estão a ser tomadas e que poderão vir a ser tomadas, no âmbito das competências da FPB. Para perceber melhor estas medidas, é necessário fazer algum enquadramento legal e regulamentar. O Bridge é um Desporto Federado. Claro que pode ser praticado socialmente, ao vivo ou online, mas não é esta a vertente que irei abordar. Na sua vertente de Desporto Federado, a prática do Bridge tem de cumprir a legislação e a regulamentação em vigor, sob pena de perda do Estatuto de Utilidade Pública e do Estatuto de Utilidade Pública Desportiva, para além de outras eventuais sanções acessórias. Dito isto, o aspecto mais relevante para a modalidade é a proibição da actividade desportiva em recintos fechados, que foi decretada desde com o estabelecimento do Estado de Emergência (Decreto nº 2-C/2020) e que se manteve com a declaração do Estado de Calamidade (Resolução do Conselho de Ministros n.º 33-A/2020). Assim, enquanto se mantiver em vigor esta limitação, não será possível realizar provas ao vivo. Após o levantamento destas restrições, e até à vacina estar disponível, se quisermos retomar a competição ao vivo, teremos de criar condições de proteção dos praticantes e de minimização dos riscos de contágio. A FPB, em conjunto com outras entidades, está a estudar medidas que envolvem, nomeadamente, a redução da ocupação dos espaços e da circulação dos jogadores, a separação física dos 4 jogadores à mesa, a ausência de partilha de cartas e bidding boxes. Estas medidas serão mais fáceis de levar à prática em provas de equipas do que em provas de pares. Relativamente às provas online, os actuais regulamentos federativos já preveem a possibilidade de estas serem homologadas. Do nosso ponto de vista, há que distinguir os casos das provas particulares das provas oficiais. Para as provas particulares, organizadas pelos Clubes, à semelhança do que já se pratica noutros países, a FPB está a negociar com o BBO um contrato que prevê a criação da figura do Clube Virtual, a quem será dada a prerrogativa de organizar torneios online, com taxa de inscrição. Cada Clube terá um responsável e os torneios terão de ter um DT, nomeado pelo Clube, que terá de ter formação para a arbitragem online. Os jogadores, para poderem participar nestes torneios, terão de estar identificados e fazer parte de uma listagem a fornecer pelo Clube. A receita dos torneios será repartida, em grande parte pelo BBO e pelo Clube, ficando para a FPB a taxa de homologação da prova. Relativamente às questões de ética, os Clubes terão total autonomia de gestão, já que a inclusão ou exclusão de praticantes das suas listas de “convidados” será da própria competência. Quanto à possibilidade de se realizarem provas oficiais online, não querendo fechar completamente essa porta, até porque já existem algumas experiências e regulamentação específica, o tema afigura-se bastante mais complexo, já que toda a regulamentação federativa vigente não foi elaborada tendo em conta este cenário e a FPB não pode correr o risco de ver as suas decisões de caracter administrativo ou disciplinar contestadas nos tribunais, por falta de consistência ou base legal. Não deixaremos, no entanto, de analisar as experiências a decorrer no presente.
Boas,
Não vejo qualquer inconveniente na realização de provas oficiais no BBO, vejo algumas vantagens:
Fica tudo registado, logo fica muito mais fácil de analisar quaisquer suspeitas de actividade menos lícita – talvez não numa ou noutra situação pontual, mas parece-me que as pessoas mais dadas a estas actividades pecam pela sua repetição, pelo que será “fácil” analisar resultados ao fim de uma boa amostra de pares ou indivíduos “suspeitos”;
Quaisquer sanções a pares/jogadores terão uma base objectiva e, assim sendo, pouco (ou menos) questionável;
Quem se sentir injustiçado, pode sempre pedir, por exemplo, para ter uma (ou mais) camara(s) e microfone ligados enquanto joga – isto pode também ser adoptado como condição para jogar durante uma investigação (com conclusões preliminares que apontem para uma % de certeza de irregularidades acima de X%);
Quem for rotulado como “irregular” terá mais dificuldade em explicar as (por exemplo 157) vozes ou jogadas que não fazem sentido, e sabendo que tudo está a ficar registado podem ter menos inclinação a comportamentos mais “estranhos” à mesa;
Existe a possibilidade de se rotular erroneamente pares e/ou jogadores? Sim, mas isso sempre existiu. A diferença agora seria a quantidade de dados disponíveis em que se baseiam as decisões, e isso parece-me muito positivo.
Fácil de implementar? Não, decerto que não.
Custos, sim, a “polícia” terá o seu custo, mas é uma questão de saber se este será superior ao aluguer de salas, duplicação de mãos e árbitros (com suas estadias e deslocações). Não sei se os custos serão superiores ou inferiores, mas se forem os mesmos, e não pagarmos mais do que o habitual, não me parece que seja um problema.
Não faço a mínima ideia se já existe algum software que sinalize possíveis irregularidades, nem quanto tempo a análise das mesmas (com ou sem ajuda de software) demoraria, mas no meu entender seria tempo e dinheiro bem gastos.
Também não sei quantas mãos seriam suficientes para se poder condenar alguém, mas isso os peritos devem saber.
Por último, e sabendo todos nós que existem pares/indivíduos suspeitos, começar por analisar em primeiro lugar as mãos jogados pelos mesmos (sim, isto é extremamente subjectivo e decerto politicamente incorrecto).
O que pode fazer pelo bridge? Muito, na minha opinião. Deixa de implicar custos de deslocação e estadia, deixa de implicar consumos de bar e jantares nos intervalos.
Permite também, na minha opinião (que vão dizer que é ingénua) uma maior transparência nos resultados (desde que a “polícia” seja uma realidade).
Vai matar os clubes? É possível, mas não conheço nenhum clube (não um local onde se jogue bridge umas vezes por semana, estou a falar de clubes de bridge) que seja rentável, pelo que não estou a ver o drama.
Será dificil, se os praticantes se habituarem a jogar a partir do conforto das suas casas, a voltarem aos clubes nos próximos tempos (com a frequência que o faziam), talvez, e então? Quantos praticantes são donos de clubes? A federação e as associações representam clubes ou praticantes?
Quanto à captação de novos praticantes, que eu saiba quem dava aulas de bridge continua a dar as mesmas aulas, mas online (e imagino que se aprenda muito mais numa hora online do que em 2 horas ao vivo, mas posso estar errado – se alguém que dava aulas ao vivo e agora as dá online me quiser corrijir, força).
Será também, penso eu, mais fácil captar novos praticantes que não têm que sair de casa para aprender a jogar.
Claro que vão existir entraves a tudo, pois isto é alterar o status quo que dura há anos (provavelmente décadas, não jogo há tempo suficiente para o afirmar).
Uma das causas, na minha opinião, da morte anunciada do bridge é a recusa de todos os dirigentes (em todos os países) em ser proactivo e tentar fazer com que o desporto acompanhe as mudanças da sociedade – pode ser que agora sejam, pelo menos, reactivos, pois têm a motivação perfeita: se não fizerem nada, vão ficar sem dinheiro. Assim podem vender o que já vendiam antes (pontos de ranking), provavelmente ao mesmo preço que o vendiam, mudando apenas a composição desses custos.
A adesão massiva que houve às equipas que o B4F está a organizar talvez sejam uma boa bitola para avaliar a coisa – mesmo sem medidas “anti-irregularidades”, a malta está toda a jogar.
Foram os meus 2 cents
O que era normal há uns tempos, não é o k é normal agora ou o k será para a semana. Temos de nos adaptar à esta nova realidade de distanciamento social, de modo a salvaguardar-nos mas principalmente salvaguardar os outros.
O Bridge jogado à mesa é um pouco incompatível com esta ideia de distanciamento social, a não ser k a mesa tenha aí uns bons metros de tamanho, além da questão dos baralhos de cartas k talvez fosse resolvido com torneios em barómetro, da dimensão das salas, do número de pessoas por m2….
A realidade do Bridge online traz a questão da fiabilidade dos resultados.
Mas tb se pode por em dúvida Qto a alguns resultados de jogos à mesa qdo as pessoas passam a vida a olhar para tlm ou vão para a sala de fumo falar ou estão a falar na sala de mãos durante o decurso de torneios… Nada é perfeito.
Cabe à federação e às associações ver qual o melhor caminho para não deixar o coronavirus minar o Bridge nacional.
O uso de cartas a circularem durante horas de mão em mão, a distância entre jogadores na mesma mesa, e entre mesas, não vão merecer a confiança das pessoas, pelo menos enquanto não houver uma vacina.
Nos jogos online também se usam cartas mas não se toca nelas….
Se recordarmos como ainda há poucos anos se baralhavam as cartas e registavam os jogos e os resultados, e os árbitros passavam horas a apurar as classificações; se pensarmos que podem vir mais pandemias ou esta voltar…. ; vemos como também agora são necessárias soluções inovadoras, para a sobrevivência da modalidade, tais como a introdução digital de dados ou o recurso a torneios oficiais on-line com difusão de imagens
Vou tentar analisar as questões postas numa opinião meramente pessoal!
Que não se prevê a curto prazo o regresso à normalidade é uma realidade! Que aquando desse regresso haja uma diminuição da frequência discordo em absoluto! A avaliar por mim o pessoal está com tanta fome que serão ” sete cães a um osso”!! Se quiserem uma comparação avaliem como será o reatamento dos nacionais de futebol ( desde que estejam salvaguardadas as condições,claro)!!
Quanto aos Clubes,Associações e Federação estarem aflitas de dinheiro,não me parece! Afinal já receberam quotas e nada deram: Portanto só lucro!! Quanto às provas oficiais não terem condições de serem realizadas online também me parece isso! No entanto,como a época de 2020 é para esquecer,do meu ponto de vista, julgo ser a altura ideal para testar essa possibilidade e tentar “separar o trigo do joio”. Para isso haveria que criar um júri par analisar vozes e carteio e detectar os “batoteiros”!!
Quanto ao ano de 2021 julgo que os diversos responsáveis ,quer federativos quer ao nível de clube devem fazer as suas programações como nada se tivesse passado! Mal estaríamos se em 2021 não estivesse tudo na normalidade! Se não estiver,não é só o bridge que morreu! Morremos todos!!
Caro Victor
Antes de mais obrigado pela tua opinião.
Queria apenas esclarecer que, tanto quanto me parece, a diminuição de frequência vai ser resultado não da óbvia vontade de todos nós de regressarmos ao pano verde, mas de regras de distanciamento social que, tudo indica, se irão manter para lá deste tempo de confinamento em casa. Aliás, como sabes, o futebol prepara o regresso, mas à porta fechada.
Sobre o problema financeiro da FPB e dos clubes, o facto de muitos praticantes já terem pago as suas quotas anuais não é, como afirmas, tudo lucro. As rendas das instalações continuam a ter de ser pagas e os encargos com pessoal, mesmo com restrições, continuam a ser encargos.
Com receitas zero há 2 meses não me parece que a situação seja assim tão simples de ultrapassar.
Para 2021 esperemos que tudo regresso à possível normalidade.
Um abraço