Manual de Iniciação ao Bridge

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Capítulo III - Pontos de cheleme; apuramento de vazas; saídas



A carta de saída
A defesa tem o privilégio de jogar a primeira carta de uma mão. É a CARTA DE SAÍDA! Dois factores presidem à escolha da carta de saída:
- O naipe de saída, seguindo o princípio de que os naipes compridos, mesmo sem cartas mestres. têm mais possibilidades de produzir vazas.
- Escolhido o naipe, há que escolher a que carta desse naipe se deve sair. Esta escolha irá obedecer a um conjunto de regras que têm por finalidade ajudar o parceiro a reconstituir, mesmo que apenas parcialmente, a composição do naipe escolhido. Estas regras fazem parte de uma técnica de defesa conhecida por
SINALIZAÇÃO.
O jogador que sai tem uma sequência de honras
Constitui uma sequência de honras um conjunto de 3 cartas equivalentes em que, pelo menos, uma delas é uma honra. Por exemplo: «RDV6»; «DV105»; «109864». Nestas situações, o jogador escolhe a carta mais alta da sequência, denominada CABEÇA DE SEQUÊNCIA. Logo, «RDV6»; «DV105»; «109864»
Esta regra apresenta várias vantagens:
- desde logo mostra a existência de, pelo menos, 2 cartas equivalentes inferiores.
- para ganhar a vaza, o adversário terá de gastar uma das suas cartas mestres. A saída a uma carta pequena corre o risco de ver o adversário ganhar a vaza com uma carta igualmente pequena, conservando todas as cartas mestres que possuía de início.
O jogador que sai não tem uma sequência de honras
É o caso mais frequente. Nesta situação, o jogador escolhe uma carta pequena, mas não uma carta qualquer. A carta seleccionada é a 4ª carta do naipe (contagem feita por ordem decrescente da hierarquia das cartas). Por exemplo: «RV65

PRINCÍPIOS A SEGUIR PARA A CARTA DE SAÍDA
 ESCOLHA DO NAIPE  Naipe mais comprido
 ESCOLHA DA CARTA  Se com 3 ou mais cartas equivalentes com pelo menos 1 honra » Cabeça de sequência
 Sem sequência » 4ª carta

A tarefa da defesa não se resume, no entanto, à escolha da carta de saída. Muito pelo contrário, a defesa exige dos dois jogadores do campo uma permanente recolha de informações, com o objectivo de poderem reconstituir, tão fielmente quanto possível, as mãos escondidas - do parceiro e do declarante.

Deduções sobre a carta de saída
Se bem que a carta de saída dê uma informação precisa sobre o teor do naipe, não dá, no entanto, uma informação precisa quanto ao número de cartas. O que se sabe é o que deriva do princípio atrás estudado - saída ao naipe comprido, entendendo-se por naipe comprido, um naipe com 4 ou mais cartas. Existe assim a forte possibilidade de o naipe escolhido ser um naipe assimétrico para as duas mãos do campo defensivo, o que equivale a dizer que existe perigo de bloqueio. As receitas para este mal já foram estudadas anteriormente, mas nunca é demais lembrar - começar por jogar as honras da mão curta. Esta tarefa que, como já vimos, pode ter alguma complexidade para o declarante, torna-se muito mais complicada para a defesa. O declarante vê as cartas do parceiro (o morto). Os defensores não podem ver as cartas um do outro.
  742   Pela saída, é conhecida uma sequência de, pelo menos, 3 cartas equivalentes «DV10». Por outro lado, fica-se a saber que o «R» está na mão escondida do declarante.
D ¨ A83

  742   Pela saída, é conhecida uma sequência de 3 cartas equivalentes «RDV». Fica-se a saber que a defesa possui todas as honras no naipe. Resta gerir as comunicantes entre mão curta e mão comprida
R ¨ A103

Que carta jogar pelo parceiro ?
A atitude do parceiro é, obviamente, diferente caso a saída seja a uma honra ou a uma carta pequena. Por outro lado, a análise do morto desempenha também um importante papel.
- Após a saída a uma honra
Por exemplo, a saída a uma «D».
A saída promete «DV10x...» e nega a honra imediatamente superior, neste caso o «R». Se o parceiro tiver «Rx», deve desbloquear o «R», na 1ª vaza do naipe. Depois pode ser demasiado tarde!!!
  732   Depois da saída à D e do aparecimento do morto, Este deve jogar o A. O R está na mão do declarante e irá realizar vaza .... a menos que esteja seco!
DV1085 ¨ A64

  R32   Depois da saída à «D» e do aparecimento do «R» no morto, Este deve jogar uma pequena carta, deixando o parceiro em mão. Desta forma, a defesa realizará 3 vazas no naipe, se Oeste não tiver qualquer entrada lateral ou 5 vazas se houver uma entrada lateral ou se o declarante jogar, prematuramente, o «R» do morto. Se jogar o «A» sem o declarante ter jogado o «R» do morto, perderá, em qualquer das hipóteses referidas, 1 vaza.
DV1085 ¨ A64

- Após a saída a uma pequena carta (4ª carta)
A conclusão é que o jogador que sai tem, pelo menos, 4 cartas no naipe, sem sequência de honras. A tarefa do parceiro é agora, se possível, colaborar no apuramento do naipe
  742   Nesta fase inicial de aprendizagem, há a tendência para "poupar" as honras. Jogar o «8» nesta situação tem um efeito duplamente negativo. Em primeiro lugar, permite ao declarante ganhar a vaza com uma pequena carta, por exemplo, o «9». Depois retarda o apuramento do naipe.
5 ¨ R83

  742   O diagrama completo do exemplo anterior pode ser este. Se jogar o «8», o declarante ganha a vaza com o «9» e outra ainda com o «A». Se jogar o «R» o declarante apenas conseguirá 1 vaza, o «A», desde que seja Este a atacar o naipe.
D1065 ¨ R83
  AV9  

Alguns casos especiais:
  742   Coloque-se no lugar de Oeste e tente reconstituir as cartas no naipe que escolheu para sair. Onde está a «D»? Na mão do parceiro ou na mão do declarante?
O jogador que sai com uma sequência sai à cabeça de sequência para mostrar ao parceiro o teor do naipe que escolheu - sinalização. Da mesma forma, quando vamos assistir a um naipe jogado pelo parceiro e temos um conjunto de cartas equivalentes, devemos jogar a carta mais pequena da sequência. Porquê? Sinalização!
V985 ¨ R
  A  

  742   Duas cartas equivalentes, jogamos a carta mais baixa da sequência. A vaza só poderá ser ganha pelo declarante com o «A», ficando a faltar o «R». Embora o declarante possa tê-lo, deliberadamente, escondido, existe uma probabilidade razoável de o «R» estar em Este.
5 ¨ RD3

Outra situação especial é quando o jogador a seguir ao morto tem uma fourchette relativamente às cartas do morto.
  1072   Chama-se fourchette a combinações do tipo «V9», «D10», «AD», etc... Quando a carta que falta na fourchette está à vista, no morto, devemos jogar a carta mais baixa da fourchette. No nosso exemplo, a carta que falta na fourchette é o «10», que está no morto, pelo que se deve jogar o «9»
5 ¨ V93

A voz de convite em 2ST, após uma abertura de 1ST
Vamos precisar um pouco melhor um conceito já discutido no Capítulo II - a sequência de convite após uma abertura em 1ST.
Sendo a abertura de 1ST precisa quanto a força e distribuição, o respondente está, muitas vezes, em situação de decidir o contrato final: «Passe» quando não há força suficiente para partida (mãos de 0-8 pontos) ou «3ST» quando há a garantia de, pelo menos, 25 pontos no campo (mãos de 10+ pontos).
Restam as mãos de 9 pontos que, dependendo do abridor estar no valor máximo ou no valor mínimo do intervalo de pontos anunciado, podem ou não ter força para partida.
Para estas situações, o respondente tem há sua disposição a marcação de «2ST», que funciona como um convite. Com uma abertura de 15 pontos o abridor «Passa» a «2ST», com 16 ou 17 pontos marca «3ST». Esta abordagem levanta um problema, relativamente às mãos de 8 pontos. Das 3 hipóteses possíveis, 15-16-17 pontos, só numa delas se atingem os 25 pontos necessários para partida. Por esta e outras razões, que discutiremos mais tarde, devemos eliminar os 8 pontos da zona de convite. O nosso esquema de respostas ficará assim:
 0 a 8 pontos  »  PASSE
 9 pontos  »  2ST
 10 a 16 pontos  »  3ST
 17 pontos  »  4ST (mais à frente estudaremos esta sequência)
 18 a 20 pontos  »  6ST
 21 pontos  »  5ST (mais à frente estudaremos esta sequência)
 22 a 25 pontos  »  7ST

Vamos ver alguns exemplos sobre a atitude do respondente após uma abertura em 1ST:

1

2

3

4
ª84
©
962
¨D963
§
V742 
ªR75
©
85
¨RV63
§
A852 
ªRV8
©
96
¨A963
§
8742 
ªR94
©
96
¨A963
§
D742 

3 pontos
«passe»

11 pontos
«3ST»

8 pontos
«passe»

9 pontos
«2ST»



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