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COMENTÁRIOS DE INOCÊNCIO ARAÚJO SOBRE O CE
De 16 a 25 de Junho realizou-se em Budapeste, na Hungria, a 53ª edição dos Campeonatos de Europa de equipas nacionais. Portugal fez-se representar por três equipas (Open, Feminina e Sénior), o que não acontecia desde 1995, ano em que a prova se realizou em Vilamoura.
Como é do conhecimento geral, desde o início do actual mandato federativo, a Direcção da FPB assumiu a responsabilidade da preparação e escolha das Selecções Nacionais, nas categorias Open, Feminina e Júnior, tendo para o efeito criado o Núcleo de Alta Competição (NAC). No que respeita às Selecções Seniores, manteve-se o modelo anterior, em que as equipas que nos representavam eram decididas, exclusivamente, com base nos resultados de Torneios de Selecção.
Neste novo enquadramento, em que a responsabilidade da preparação e escolha das Selecções Nacionais é da Direcção da FPB, é natural que esta assuma igualmente a responsabilidade de analisar os resultados e de tirar conclusões sobre o que deve ser melhorado.
Comecemos pela Selecção Feminina. Em primeiro lugar, há que salientar o trabalho de preparação realizado sob a direcção do treinador e seleccionador nacional, Juliano Barbosa, desde Setembro de 2014. No âmbito da preparação dos sistemas, da formação técnica e dos treinos efectuados (ao vivo e on-line), pode afirmar-se que nunca se tinha realizado um trabalho com tanta profundidade e qualidade. Há também que dizer que foram sendo proporcionados, ao grupo de trabalho, os meios e as condições necessárias e compatíveis com os recursos da FPB.
Se bem que a classificação obtida (18º lugar em 23 equipas) pudesse ter sido melhor, a Selecção Feminina revelou uma assinalável solidez, em muitos dos encontros realizados contra Selecções de países com recursos muito superiores ao nosso. As derrotas por pequenas margens com a Holanda (6ª), Alemanha (11ª), Rússia (4ª) e França (2ª), e as vitórias com a Itália (8ª) e a Noruega (10ª) representam um registo auspicioso e motivador para o futuro.
Ficou claro, para todos os que participaram e acompanharam a preparação e a participação da Selecção Feminina, que será necessário continuar e aprofundar o trabalho realizado, se quisermos diminuir o fosso que nos separa das melhores selecções. A melhoria dos resultados não é compatível com preparações pontuais nas vésperas das competições internacionais, nem com parcerias ocasionais, práticas habituais no passado.
A Selecção Open teve um desempenho irregular. Começou muito bem, com uma vitória 61-43 sobre a Bulgária (7ª), a que se seguiram seis maus resultados. Seguiu-se uma vitória 63-13 sobre Israel e outros cinco maus resultados. No quinto dia da competição, três vitórias sobre a Alemanha, Rússia e Áustria pareceram ser um indício de recuperação, mas os desempenhos no sexto e no sétimo dia foram, de novo, negativos. E eis que nos últimos três dias de competição, a Selecção Open apresenta um desempenho assinalável: 9 vitórias, um empate e uma derrota, onde se salientam as vitórias por 54-0 sobre a Polónia, campeã do mundo em título, por 50-22 sobre a Islândia e por 75-11 sobre a Finlândia.
Nestes últimos 11 encontros, a Selecção Open fez 14 PV de média, o que é considerável, se tivermos em conta que a França venceu a prova com 13,27 PV de média.
Numa análise mais detalhada, mão a mão, os três pares da equipa Open revelaram uma significativa melhoria nos sistemas de marcação e nos leilões competitivos, sinal de que a cultura bridgística que tem vindo a ser adquirida pelos jogadores do NAC, em grande parte devido à enorme dedicação, desinteressada, da Comissão de Selecção (Rui Pinto, Antonio Mortarotti e Álvaro Chaves Rosa), começa a dar frutos.
No entanto, a classificação final da Equipa Open (27º em 37 equipas) não correspondeu às expectativas, em especial devido a uma quantidade anormal de erros “infantis” cometidos. Convém porém frisar, em contraponto com o que já foi escrito, que este resultado não é pior do que os alcançados em algumas participações anteriores recentes, nomeadamente em 2004, 2006 e 2012 (ver tabela no final do artigo). Ou seja, desde 2004, apenas em 2008 e 2010 a equipa Open teve uma classificação melhor do que a deste ano.
Comparativamente a 2014, ano da primeira participação no presente mandato e em que se iniciou a aplicação da actual tabela de PV, a Equipa Open realizou então 17 encontros, com uma média de 7,55 PV por encontro; em 2016, realizou 36 encontros, com uma média de 9,1 PV por encontro.
São conhecidas as nossas fragilidades, em comparação com muitos países europeus, em especial o número de praticantes, os recursos federativos, a localização geográfica (que dificulta os contactos internacionais) e o grau de profissionalismo de muitos dos nossos opositores. A título de exemplo, refira-se o caso da França, com 100.000 praticantes, 400 Clubes de Bridge e 18 M€ de orçamento; nestas condições, ser Campeão Europeu é quase “natural”.
O que não quer dizer que não possamos e não devamos fazer mais e melhor. Com uma gestão equilibrada dos recursos federativos, é necessário apostar no aumento da competitividade dos pares do NAC, proporcionando-lhes mais e melhores contactos internacionais. Do lado dos jogadores, terá de haver mais dedicação e, em especial, a assunção de que a consolidação das parcerias é um factor essencial para a melhoria do seu desempenho.
Desde a primeira hora tenho afirmado que o projecto NAC não poderá produzir resultados relevantes a curto prazo, já que os hábitos e a cultura instalados, ao longo de muitos anos, não foram favoráveis ao trabalho, ao estudo e à estabilização das parcerias.
Aos mais impacientes quero dizer que os parcos resultados não nos irão conduzir ao facilitismo anterior, em que o papel da Direcção da FPB se limitava à elaboração do regulamento do Torneio de Selecção, abdicando do dever de preparar e nomear as Selecções Nacionais e evitando, assim, a responsabilização pelos resultados obtidos.
Para terminar, quero transmitir uma palavra de agradecimento a todos os jogadores, capitães e treinadores das Equipas Open, Feminina e Sénior que, com sacrifício pessoal e sem benefícios materiais, representaram Portugal com brio e dignidade.
Inocêncio Araújo
Ano |
Local |
Classificação Open |
Classificação Femin. |
Classificação Sénior |
1979 |
Lausanne |
16º (21) |
Não participou |
Não se realizou |
1981 |
Birmingham |
Não participou |
Não participou |
Não se realizou |
1983 |
Wiesbaden |
23º (24) |
Não participou |
Não se realizou |
1985 |
Salsomaggiore |
19º (21) |
Não participou |
Não se realizou |
1987 |
Brighton |
13º (23) |
Não participou |
Não se realizou |
1989 |
Turku |
12º (25) |
Não participou |
Não se realizou |
1991 |
Killarney |
20º (26) |
Não participou |
Não se realizou |
1993 |
Menton |
14º (30) |
14º (21) |
Não se realizou |
1995 |
Vilamoura |
12º (32) |
10º (22) |
7º (18) |
1997 |
Montecatini |
24º (35) |
21º (24) |
Não participou |
1999 |
Malta |
16º (37) |
Não participou |
26º (29) |
2001 |
Tenerife |
23º (35) |
Não participou |
21º (27) |
2002 |
Salsomaggiore |
25º (38) |
Não participou |
19º (19) |
2004 |
Malmo |
29º (36) |
Não participou |
Não participou |
2006 |
Varsóvia |
28º (33) |
Não participou |
Não participou |
2008 |
Pau |
17º (38) |
Não participou |
Não participou |
2010 |
Ostend |
18º (38) |
18º (28) |
Não participou |
2012 |
Dublin |
29º (34) |
Não participou |
Não participou |
2014 |
Opatija |
29º (36) |
Não participou |
Não participou |
2016 |
Budapeste |
27º (37) |
18º (23) |
20º (24) |
COMENTÁRIOS DE LUIS OLIVEIRA SOBRE OS CE 2016
Dia 1
Começaram os CE2016 em Budapeste com a equipa open já em acção. Capitaneada por Rui Pinto a formação nacional é composta por Sofia Pessoa, António Palma, João Barbosa, Nino Paz, Paulo Sarmento e Pedro Madeira. Começámos muito bem com uma vitória clara sobre a Bulgária a quem nunca tínhamos ganho nos últimos 9 campeonatos. Seguiu-se uma derrota contra a Ucrânia (3 vitórias e 3 derrotas nas vezes que nos defrontámos desde 1997), uma derrota "natural" contra a Itália, mas por números exagerados, a quem só havíamos ganho 1 vez (2001) e terminámos o dia com uma vitória sobre a Geórgia com quem não tínhamos histórico anterior. Amanhã mais 4 encontros contra Roménia, República Checa, Irlanda e Israel.
Dia 2
O segundo dia de prova não começou bem, com derrotas pesadas contra a Roménia, República Checa e irlanda, mas terminou da melhor maneira com uma expressiva vitória sobre Israel, indispensável para repôr os níveis de confiança. Para se perceber melhor a importância deste resultado, apenas por 2 vezes desde 1997 tínhamos ganho a Israel e das duas vezes pela margem mínima. Amanhã teremos uma tarefa muito difícil contra a Inglaterra e mais dois encontros contra adversários perfeitamente ao nosso alcance, Suíça e Escócia. Com níveis de concentração elevados e a jogar ao nosso melhor nível poderemos dar um salto importante na classificação. Se bem que ainda haja um longo caminho a percorrer é fundamental manter os níveis motivacionais em alta e para isso muito poderá contribuir um conjunto de bons resultados.
Dia 3
Ao contrário do que tínhamos previsto o terceiro dia de competição correu muito mal para as nossas cores com três derrotas expressivas contra Suíça, Inglaterra e Escócia. Se a derrota contra a Inglaterra pode ser considerada natural, já que estamos a falar de uma selecção candidata aos primeiros lugares da classificação, já as pesadas derrotas contra Suíça e Escócia foram oportunidades perdidas para alcançar um melhor lugar na classificação geral. A prova está apenas no início pelo que há que recuperar o ânimo e regressar às vitórias. Amanhã temos Suécia e Noruega como adversários muito complicados e Ihas Faroe e Espanha como adversários do "nosso" campeonato. Força Portugal
Dia 4
Com a entrada em cena das Senhoras e do Open, Portugal está agora em todas as frentes. A prova das Senhoras comçou bem contra a poderosa Holanda. Até meio do encontro a vantagem lusa era tão significativa quanto inesperada. Depois as coisas pioraram, mas mesmo assim terminámos com uma derrota por 4 Imp's, bem honrosa se considerarmos que defrontámos uma selecção sempre candidata à vitória. Seguiram-se depois 2 derrotas pesadas contra Polónia e Israel e terminámos o dia com uma expressiva vitória sobre a Itália. Amanhã apenas 3 encontros contra Espanha, Sérvia e Noruega
Na prova de abertura dos Seniores a equipa nacional perdeu contra a Bulgária, mas recuperou bem ao "esmagar" a França no segundo encontro. Depois 2 derrotas contra Espanha e Alemanha. Amanhã 3 encontros contra Escócia, Áustria e Estónia.
Finalmente o Open em que continuamos a não nos encontrar. Hoje 4 encontros e 4 derrotas contra Suécia, Ilhas Faroe, Noruega e Espanha. Amanhã defrontamos Alemanha, Sérvia, Rússia e Áustria. Estamos a entrar numa fase decisiva da prova pelo que é urgente recuperar ânimo e reencontrar o caminho das vitórias.
DIA 5
Um dia bom para a selecção Open com importantes vitórias sobre a Alemanha, Rússia e Áustria apenas ensombrado por uma derrota contra a Sérvia. Mas os resultados de hoje podem cosntituir um importante tónico para o que resta da competição. Na competição de Senhoras, duas derrotas pouco expressivas mas perfeitamente evitáveis frente a Espanha e Sérvia e uma vitória convincente sobre a Noruega, uma das equipas candidatas ao apuramento para a Venice Cup. Finalmente a excelente prestação da equipa sénior com 3 vitórias categóricas frente a Escócia, Áustria e Estónia, que nos coloca num lugar de apuramento para o campeonato do mundo o que a acontecer seria um feito histórico para o bridge nacional.
Amanhã o Open vai folgar no segundo encontro do dia que começa com o Mónaco e termina com a Grécia. As Senhoras vão encontrar Turquia, Finlândia e Irlanda e os Seniores Hungria, Itália e Sérvia.
Boa sorte a todos!
Dia 6
No Open sofremos duas pesadas derrotas contra o Mónaco e a Grécia o que nos coloca de novo nos últimos lugares da classificação. Também a selecção de Seniores baixou um pouco. Depois de uma excelente vitória sobre a forte equipa húngara, uma derrota pesada contra a Itália e outra mais surprenedente contra a Sérvia, última classificada na prova. Neste tipo de competição estes resultados "surpreendentes" são normais, já que é grande a pressão e o desgaste físico e psicológico. Nas Senhoras, perdemos de forma clara contra a Turquia e de forma inglória contra a Finlândia e derrotámos a Irlanda no último encontro do dia.
Num primeiro balanço do que se está a passar esperava-se e espera-se mais da equipa open e ainda há muito tempo para recuperar o ânimo. A equipa senior está a fazer uma prova notável, mesmo depois de um dia em que as coisas não correram muito bem. Quanto às senhoras podemos dizer que a prova vai decorrendo dentro das expectativas se bem que, numa análise à distância e sem todos os elementos disponíveis, pensamos que se têm desperdiçado pontos que nos poderiam colocar numa posição de maior relevo. Mas ainda faltam muitas mãos para jogar. Força Portugal.
Dia 7
Dia negro para Portugal em todas as frentes. No Open 4 derrotas expressivas contra Holanda, Estónia, França e Hungria e que nos coloca no 34º lugar da classificação e muito próximo do pior resultado de sempre em CE desde 1997. Esperemos que ainda haja tempo para recuperar o ânimo e melhorar o desempenho. Faltam 11 encontros.
As Senhoras não fizeram muito melhor, também elas com 4 derrotas nos 4 encontros realizados, se bem que por números um pouco mais satisfatórios, num dia em que defrontaram Inglaterra, Dinamarca, Bulgária e Alemanha. O 16º lugar entre os 23 participantes nesta altura estará um pouco abaixo das expectativas, mas faltam 9 encontros e ainda há tempo para trepar alguns lugares e chegar a uma classificação razoável.
Nos Seniores também 4 pesadas derrotas contra Bélgica, Israel, Polónia e Suécia que fizeram ruir todas as esperanças de uma classificação histórica e nos atirou para o 19º lugar da tabela entre os 24 participantes.
Agora é ainda tempo de acreditar que em qualquer das competições podemos melhorar o nosso desempenho.
Dia 8
Parece que a selecção Open acordou! Vitórias sobre a Turquia, Polónia e Bielorússia, com realce para a vitória folgada sobre a Polónia e uma derrota pela margem mínima contra a Dinamarca.
Nas Senhoras o panorama não é famoso. Derrota "normal" contra a Rússia e um descalabro contra a Escócia que seguia atrás de nós na classificação.
Nos Seniores, depois de uma primeira metade de prova surpreendente as coisas também não estão a correr bem. Derrotas contra Irlanda, Dinamarca e Finlândia
Dia 9
A equipa Open continua a subir na classificação, com mais um excelente dia: vitórias sobre Islândia, Croácia e Finlândia e uma derrota contra a Lituânia que não estaria no programa. De qualquer forma parece que vamos terminar a competição em crescendo, colocando-nos num lugar bem mais próximo do que podemos fazer.
Nas Senhoras mais 3 derrotas contra Grécia, França e Estónia o que nos coloca longe das expectativas iniciais.
Nos Seniores mais 3 derrotas também contra Holanda, País de Gales e Turquia.
Dia 10
Terminaram os CE 2016.
Na prova Open a França sagrou-se campeã da Europa com uma equipa recheada de jovens jogadores. Nos restantes lugares do pódio Suécia e Holanda. Apuradas ainda para a Bermuda Bowl, Mónaco (4º), Alemanha (5º) e Itália (6º). Portugal acabou em 27º lugar entre as 37 equipas participantes. Uma excelente prestação nos últimos dias de competição acabou por nos conduzir a um resultado menos mau.
Nas Senhoras, vitória da Inglaterra, seguida por França e Polónia no pódio. Apuradas para a Venice Cup ficaram ainda as formações da Rússia, Israel e Suécia. Portugal terminou em 18º lugar entre as 23 selecções em prova. Um resultado modesto mas que tem de se aceitar dadas as circunstâncias. Lembremos que estes são os quartos CE em que Portugal se faz representar desde 1997.
Nos Seniores, vitória de Israel seguido por Suécia e Polónia. Para a Seniors Cup foram ainda apuradas as selecções da Turquia, Itália e França. Quanto a Portugal, depois de ter andado nos lugares de apuramento acabou por cair na segunda metade da prova, terminando em 20º lugar entre as 24 formações em prova.
No global foram resultados muito modestos e que não deixarão de trazer de novo à baila a discussão em torno da política federativa para as selecções nacionais. Decorridos 4 anos sobre o início do projecto NAC os resultados estão muito longe de serem satisfatórios e se alguma diferença marcaram relativamente a projectos anteriores foi pela negativa. É a dura e crua verdade dos números que o demonstra. Temos de definir objectivos mais ambiciosos que o fugir aos últimos lugares da classificação. Acima de tudo temos de ter a capacidade de analisar os resultados, identificar os erros, equacionar de novo o projecto, procurar novas soluções. Quem tem o poder de decidir tem de ter a capacidade de saber ouvir todos os que podem acrescentar mais-valias ao projecto. O bridge nacional merece que assim seja. Os nossos representantes que sempre dão o seu melhor, merecem que assim seja.
LUIS OLIVEIRA