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O Bridge é um desporto
ou um passatempo?
Uma resposta a esta questão, que pode parecer menor, esclareceria
provavelmente muitos dos equívocos que envolvem a prática
do jogo e permitiria talvez melhorar significativamente o ambiente
da competição e resolver outros problemas que considero
serem responsáveis pela degradação que se
verifica na modalidade.
Existem três formas de jogar bridge:
- a partida livre, ou 'bridge social' que é normalmente
jogado em casa embora ainda existam ou resistam, meia dúzia
de mesas nos clubes.
Este bridge é claramente um passatempo; joga-se despreocupadamente
como se joga canasta, king, bisca ou ramy.
- a competição oficial, organizada pela Federação
e pelas Associações Regionais, que é, ou
pelo menos deveria ser, uma actividade desportiva visto que a
Federação a tal se candidatou e assim está
reconhecida.
- e a competição não oficial composta pelos
torneios organizados pelos clubes e por outras entidades em que
se incluem os chamados Festivais.
Ora o bridge de clube ou de festival não é certamente
uma actividade desportiva, embora possa ser mais que um mero passatempo,
sobretudo os festivais em que há quase sempre prémios
monetários e envolvem custos para os participantes.
Não se deve pois
confundir o bridge dito desportivo e o restante bridge de competição.
O que acontece é que os participantes são praticamente
os mesmos, e a sua maioria não possui qualquer preparação
desportiva.
E como os praticantes de bridge de competição não
têm em geral formação desportiva e como os
dirigentes desportivos no bridge são simultaneamente praticantes,
a modalidade é dirigida por pessoas sem a necessária
formação.
E aparentemente ninguém os obriga a tê-la o que se
me afigura um erro grave.
Com a entrada em vigor dos novos estatutos que reformularam a estrutura organizativa de forma a obedecer às leis que regem a actividade desportiva oficial, a situação, que já não era boa, agravou-se significativamente.
A principal preocupação
dos dirigentes é a sobrevivência económica
do bridge desportivo, e daí inundarem o calendário
com provas de todo o tipo para gerar receitas.
E isto leva a que, por um lado, os dirigentes tenham pouca disponibilidade
para o essencial que é o de terem estatutos e regulamentos
bem elaborados, fomentarem a prática verdadeiramente desportiva
e formarem os praticantes para ela, e por outro lado, o excessivo
número de provas tende a banalizá-las e conduz á
deterioração da sua importância desportiva.
Hoje em dia quase que não existem diferenças entre
as provas oficiais - os campeonatos - e as provas particulares
- os torneios.
Vem isto tudo a propósito da forma como um grande número de praticantes encara o jogo.
Não pretendo com este artigo ensinar ética, boas maneiras ou bons costumes aos jogadores de bridge.
Mas espero contribuir para transmitir, sobretudo aos que jogam há menos tempo, algumas ideias sobre a 'forma de estar' em competição, com o parceiro e com os adversários, e sobre o modo como um par pode progredir em termos de entendimento.
Uma faceta particular do Bridge é que nem é uma modalidade colectiva - de equipa - como a maioria delas é, nem é uma modalidade individual como o atletismo, a natação ou o xadrez, que embora possam ter classificações colectivas, dependem da prestação individual.
O bridge é um jogo de pares.
E logo aqui se vê
a impreparação da esmagadora maioria dos jogadores
para o praticarem.
Não estou a escrever novidade nenhuma se constatar que,
para um jogador, o parceiro não representa ele próprio
sentado do outro lado da mesa. É mais a pessoa que comete
erros, que estraga a sua performance, que não sabe marcar,
carteia muitas vezes mal e está frequentemente distraído.
Apesar do bridge ser um jogo de pares, raros são os jogadores
que jogam sempre ou quase sempre com o mesmo parceiro, e ainda
mais raros os que, tendo um parceiro habitual, se preparam com
ele para a competição.
E esta é a principal causa da baixa qualidade do bridge
de competição que praticamos.
O jogador de bridge de competição que queira progredir
tem que:
- estudar bridge - para progredir em competição
é necessário estudar.
- encontrar um parceiro que tenha um nível próximo
do seu (sei que não é fácil avaliar com objectividade
dado que somos nós próprios o termo de comparação)
e de quem seja amigo.
- aprofundar com o parceiro o sistema de marcação
na procura de soluções para leilões específicos,
e na tentativa de encontrarem as mesmas respostas para situações
semelhantes.
Mas evitar jogar convenções que normalmente não
dominam, até na sua filosofia. As convenções
vão-se introduzindo num sistema à medida que se
domine bem os seus princípios de base e se forem detectando
lacunas.
- analisar com o parceiro os flanco falhados e procurar soluções
para os evitar.
- evitar discutir ou endossar as culpas para o parceiro, sobretudo
à mesa, procurando em vez disso, que sejam os dois a analisar
sem a prioris o que terá corrido mal e como o evitar de
futuro.
E para bem do bridge de competição é fundamental que o jogador:
- respeite os seus adversários
quer humana quer tecnicamente e que tente manter em todas as circunstâncias
um ambiente descontraído e simpático à mesa
de jogo.
- respeite e cumpra as regras da competição e quem
é responsável pelo seu cumprimento: árbitros
e dirigentes.
- exija a uns e a outros, e a todos os praticantes, o cumprimento
dessas mesmas regras.
- não utilize subterfúgios ou eventuais lacunas
ou indefinições das regras para se aproveitar de
vantagens a que, em boa consciência, sabe não ter
direito.
Se cada um de nós
conseguir respeitar e contribuir para que se respeitem este e
outros princípios da conduta desportiva, tenho a certeza
que teremos muito mais prazer no futuro em praticar esta modalidade
e que conseguiremos trazer mais gente para jogar connosco.