O bridge nacional vai vivendo, ano após ano, numa espécie de fatalismo crónico, assolado por crises sucessivas, que vão afastando os filiados e que nos vão deixando cada vez mais inertes e conformados.
Felizmente, não todos! O magnífico projecto de formação que o Engº Jorge Lopes vem desenvolvendo na Figueira da Foz é uma pedrada no charco em que vamos navegando e prova que é possível desenvolver projectos de grande sucesso, fundamentais para a sobrevivência da modalidade, enfrentando dificuldades de toda a ordem, quantas vezes esbarrando na indiferença de quem tem, por obrigação, acarinhar este tipo de iniciativas. Isto para não falar no esbanjamento dos parcos recursos financeiros e humanos em actividades secundárias e circunstanciais, sem qualquer tipo de retorno para a modalidade e que vão servindo apenas como empreendimentos de fachada.
A publicação do relatório enviado para a Direcção da FPB e que fomos autorizados a divulgar, pretende ser, antes de mais, um GRITO DE ALERTA! O bridge nacional está doente, mas não significa que esteja moribundo. A doença tem cura e pode ser vencida se soubermos definir as nossas prioridades, se apostarmos num projecto de renovação da modalidade, se tivermos a humildade de aceitar e apoiar o muito trabalho anónimo que se vai fazendo por esse País fora, mais importante para o bridge que as estéreis discussões em que andamos, sistematicamente, envolvidos.
A visão de uma modalidade profundamente elitista, com as linhas mestres de acção circunscritas aos interesses de um pequeno grupo de jogadores, já provou que não nos leva a mais nenhum lado que não seja ao abismo. O futuro está na formação de novos praticantes, na procura de novos pólos de dinamização do bridge, seja nas Escolas, nas Universidades, nos núcleos de empresas ou nos clubes. Temos de ser muitos mais antes de podermos ser melhores.
Que o exemplo que aqui vos deixamos frutifique, que os órgãos de gestão acordem, de uma vez por todas, que o trabalho do Engº Jorge Lopes e de outros que, por baixo da capa do quase anonimato, vão desenvolvendo projectos que deveriam merecer a atenção e o apoio das estruturas dirigentes, porque são a melhor garantia de que a modalidade terá futuro, são os nossos votos sinceros.
Ao Engº Jorge Lopes e a todos os que dedicam o seu tempo e as suas competências a esta área fundamental para o desenvolvimento da modalidade fica o meu público agradecimento.
Luís Oliveira
Jorge Lopes
Exmo Senhor Presidente da Federação Portuguesa de Bridge
Já em 12 de Julho de
2006 tinha apresentado à Federação Portuguesa
de Bridge (FPB) um projecto para ensino de bridge aos jovens das
Escolas Secundárias da Figueira da Foz.
Nessa apresentação solicitava à FPB algum
apoio para o projecto. O apoio pretendido não seria do
tipo monetário (apesar das despesas, que as há,
terem sido inteiramente suportadas por mim), mas sim apoio fundamentalmente
na área pedagógica visto que, apesar de eu ser um
monitor "credenciado" pela FPB, tinha apenas ministrado
até então (vários) cursos de iniciação
a adultos (em clubes, quer da Figueira da Foz, quer de Coimbra)
e não tinha, portanto, qualquer experiência no ensino
de bridge a jovens. Também solicitava material promocional,
apelativo, para chamar os jovens, para além de solicitar
enquadramento para o projecto que pretendia desenvolver.
Apesar de não ter recebido qualquer resposta da FPB, e visto que o projecto foi para diante, considero útil vir dar conhecimento a V. Exas. da forma como decorreu o projecto e quais os resultados obtidos.
Os presidentes dos conselhos
executivos das Escolas contactadas levaram as propostas à
discussão nos conselhos pedagógicos respectivos,
que aprovaram os projectos apresentados. Assim,
" Na Escola Secundária Dr. Joaquim de Carvalho (ESJC)
foi decidido que TODOS os alunos que frequentassem o 9º ano
iriam aprender o jogo, tendo sido inserido o ensino do bridge
em tempos curriculares das disciplinas de Formação
Cívica e de Projecto. Fiquei ao todo com 119 (confirmo,
119) alunos (de 14 - 15 anos)
" Na Escola Secundária Dr. Bernardino Machado a opção
foi diferente. Após uma sessão, para a qual preparei
uma palestra ao alunos interessados e onde explicava o que é
bridge e como se jogava, criou-se um clube de Bridge com 9 jovens
(dos 12 ao 16 anos).
" Com toda esta "ocupação" não
foi possível desenvolver projectos em outras escolas.
Devido não só ao número de alunos da ESJC, como também às condições, atribuí uma maior importância ao projecto nesta Escola e é sobre este projecto que vou incidir as minhas reflexões.
As dificuldades que se me depararam
foram muitas, sendo justo referir o apoio dado pelo Sr. Luís
Oliveira (antigo responsável da formação
da FPB) quer no que concerne a orientação, metodologias,
etc, como também pela disponibilização de
manuais de sua autoria. Mesmo assim, depressa me apercebi que
os planos e o material inicialmente preparado não correspondiam
às necessidades dos alunos pelo que houve necessidade de
refazer tudo de novo.
E tudo foi (re)feito com enorme trabalho (mas também com
muito entusiasmo) desde a redefinição dos conteúdos
do "curso" como à sua planificação,
com infindáveis horas de pesquisas em sites de bridge na
Internet (em particular os da Federação Francesa
de Bridge) e na adaptação para português de
muito material, preparação de jogos, etc., etc..
Acrescente-se ainda que na ESJC tive que lidar com duas enormes
dificuldades resultantes de TODOS os alunos frequentarem o curso:
a primeira é a de que não tinha apenas alunos interessados
em aprender bridge e a segunda derivou de ter grupos muito grandes.
As condições não eram as melhores mas, decidido
a aproveitar o que tinha, alterei um pouco o objectivo do curso
dando especial ênfase à motivação em
detrimento dos ensinamentos técnicos, de forma a cativar
e a despertar no maior número possível de interessados
a curiosidade em saber mais. Deste modo, utilizei as cerca de
8 aulas de 90 minutos por grupo para lhes ensinar a mecânica
do jogo, as suas regras, as definições principais
dos seus elementos constituintes e as suas funções,
a avaliação da força de jogo, a marcação
e as técnicas básicas de carteio, tanto em sem trunfo
como em jogos trunfados.
Usei um método muito próximo do mini-bridge. Em
todas as aulas havia uma apresentação teórica/prática
(em power point) com alguns exercícios práticos,
seguida de uma parte prática com jogos preparados com problemas
estudados na parte teórica. Depois da introdução
da noção de trunfo, e quando sobrava tempo, jogavam-se
jogos sem ser preparados.
No final do ano fez-se uma
reunião de balanço na qual estiveram presentes todos
os professores das áreas curriculares das turmas respectivas,
alguns directores de turma e o presidente do Conselho Executivo,
tendo-se chegado, entre outras, às seguintes conclusões:
" A experiência foi muito positiva. Os professores
observaram que os alunos, de uma maneira geral, adoptavam melhores
atitudes e comportamentos, acatavam as regras e a disciplina com
mais facilidade, desenvolveram aptidões mentais, nomeadamente
no que se refere à maior facilidade de fazer contas "de
cabeça". Outros resultados positivos, se os houve,
não puderam ser observados. Não foram referidos
quaisquer efeitos negativos nos alunos.
" Foi decidido repetir a experiência no ano lectivo
2007-08 a TODOS os alunos do 9º ano (com cerca de 100 alunos).
" Foram também identificados alguns aspectos que tiveram
impacto negativo no projecto, a saber: grupos muito numerosos,
o início tardio do projecto, a periodicidade quinzenal
das aulas, poucas aulas para os conteúdos dados e um défice
de exigência na avaliação.
" Para minimizar os impactos negativos referidos foi decidido
que, em 2007-08, se iriam preceder às seguintes alterações:
1. O início do projecto iria coincidir com o arranque do
ano lectivo;
2. O módulo de bridge comportaria 10/11 aulas de 90 minutos
com uma periodicidade semanal.
3. As turmas serão divididas ao meio de modo a obterem-se
grupos com o máximo de 3 mesas.
4. Enquanto uma metade da turma teria a aula normal a outra metade
vai frequentar o módulo de bridge em sala apropriada para
o efeito.
5. As primeiras metades de cada turma frequentarão o módulo
de bridge de Setembro/Outubro até Dezembro. As segundas
metades vão frequentá-lo de Janeiro a Abril.
6. Deverá aplicar-se no módulo de bridge o mesmo
grau de exigência, no que respeita a avaliação,
que se aplica às restantes disciplinas.
" Foi também decidido criar um clube de bridge na
Escola para permitir que os alunos interessados (não só
os que acabaram o actual projecto como também os que vão
frequentar os próximos módulos) possam prosseguir
a sua aprendizagem no bridge.
Paralelamente, envolvi no projecto os clubes da Figueira da Foz onde se joga (e eu ensino) bridge, o Tennis Club da Figueira da Foz e a Assembleia Figueirense, que se comprometeram também a receber os jovens interessados no bridge e a garantirem a continuidade da sua formação sem qualquer tipo de encargo para eles.
Vou finalizar tal como comecei.
Considero que esta minha iniciativa, que se vai repetir em 2007-08
(pelo menos), deveria ter o apoio da FPB. Não me refiro
especificamente a apoio financeiro do projecto (do qual sou o
único contribuinte líquido). A FPB pode ajudar (e
muito) com o seu envolvimento, dando força, eliminando
erros e contribuindo com ganhos de eficiência ao projecto.
Repito o que já em 12 de Julho de 2006 havia referido:
" Alguns aspectos onde o apoio da FPB seria bem-vindo:
" Métodos pedagógicos do ensino aos jovens
(planos de curso, conteúdos, incidências específica,
etc.;
" Material promocional para divulgação do bridge;
" Orientações e outras propostas que, com a
experiência dos elementos da FPB, possam impedir que cometa
erros desnecessários;
" Por fim, o enquadramento e estruturação desta
acção dentro de um projecto mais vasto que a FPB
possa desenvolver junto do Ministério da Educação
com vista a tornar mais fácil a replicação
desta acção noutras escolas e em anos vindouros.
Não considero este projecto como um projecto apenas meu.
Já envolvi alguns agentes da sociedade e gostaria que a
FPB o considerasse como um projecto também seu e o acarinhasse
da forma que considerasse ser a melhor possível. Por isso,
agradeço desde já todo o apoio que me possa dar,
seja ele material ou do ponto de vista organizacional, e podem
ficar cientes do bom acolhimento de todas as vossas sugestões.
"
Independentemente da vossa resposta, continuarei a manter a FPB
a par da evolução do projecto.
Em anexo:
- cópia da carta que vos enviei em 12 de Julho
de 2006
- cópia de
uma entrevista que dai ao "SINAL", jornal da Esc. Joaquim
de Carvalho e publicado no presente mês de Junho.
Com os meus melhores cumprimentos
Jorge Lopes
Ex.mos Srs.
FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE BRIDGE
A c/ Sr. Luís Oliveira
Av. António Augusto Aguiar, 163, 4º, Esq
1050-014 LISBOA
Ass.: Formação: Bridge escolar na Figueira da Foz
Data: Fig. Foz, 12 de Julho de 2006
Ex.mos Senhores
Na sequência de um projecto
que começou em 2005 por querer ensinar a jogar Bridge aos
colegas do Clube Portugal Telecom de Coimbra, os objectivos passaram
a ser um pouco mais ambiciosos, função dos resultados
obtidos e também fruto dos apoios que entretanto foram
surgindo (nunca é demais expressar os meus agradecimentos
ao Sr. Tiago Canelas, presidente da Ass. de Bridge do Centro,
e em particular ao Sr. Luís Oliveira, quer a nível
pessoal quer enquanto responsável pela formação
da FPB, e à própria FPB). Assim, depois do curso
de iniciação dado ao Clube PT, seguiram-se dois
cursos de iniciação (I e II) no Tennis Clube da
Figueira da Foz e um curso na Assembleia Figueirense. Os resultados
são muito entusiasmantes, com 8 novos jogadores no Clube
PT, 8 na AF e 16 no Tennis Club, havendo já pedidos para
um curso de aperfeiçoamento, eventualmente a ter lugar
em Outubro.
Quanto mais me fui envolvendo nos aspectos de formação,
mais me ia apercebendo dos benefícios que o jogo pode trazer
a quem o pratica, independentemente da actividade exercida e da
idade. Em particular os jovens podem lucrar imenso com essa prática
e indirectamente, através deles, toda a sociedade em geral.
Foi ao expressar este tipo de ideias numa entrevista sobre Bridge
dada a um programa de rádio local, o Rádio Clube
Foz do Mondego, e onde lamentava não ter alunos jovens,
que fui desafiado a orientar o meu esforço nesse sentido.
E assim nasceu este novo projecto.
Este novo projecto começou a ganhar corpo quando, em contactos
"casuais" com elementos dos conselhos executivos das
Escola Secundárias da Figueira da Foz, referia os benefícios
do ensino do Bridge aos jovens e indagava das possibilidades desse
ensino ser feito nas Escolas. Verificando haver abertura, passei
a concretizar a ideia. Assim, enderecei um ofício, acompanhado
de um artigo de Elsa Cagner da FIB sobre A FUNÇÃO
EDUCATIVA E SOCIAL DO BRIDGE, gentilmente cedido pela FPB através
do Sr. Luís Oliveira, a cada um dos presidentes dos Conselhos
Executivos de 3 escolas secundárias da Figueira da Foz,
expondo em linhas gerais o projecto e disponibilizando-me para
o ensino, que terá lugar no início do próximo
ano lectivo. Depois disso foram feitas reuniões em cada
uma das escolas para pormenorizar ideias, podendo fazer-se, neste
momento, o seguinte ponto de situação:
- Escola Secundária Dr. Joaquim de Carvalho
Acolhimento excepcional.
Vão ser dados 2 cursos: um ao 9º ano de Escolaridade
integrado na disciplina de Educação Cívica;
o outro curso será aberto a toda a comunidade da Escola
(outros alunos, familiares, professores e funcionários)
no âmbito da criação de um Clube de Bridge.
Para este caso foi planeada uma estratégia que passa pela
divulgação do curso e do Bridge nos locais habituais
de divulgação de informação e pela
realização de acções promocionais,
nomeadamente palestras para explicação sucinta do
jogo, e demonstrações "ao vivo".
- Escola Secundária
Dra. Cristina Torres
Acolhimento excepcional.
Vai ser dado um curso aberto a toda a comunidade da Escola (alunos,
familiares, professores e funcionários) no âmbito
da criação de um Clube de Bridge, e com uma estratégia
semelhante à referida para a ESJC.
- Escola Secundária Dr. Bernardino Machado
Acolhimento excepcional.
Para além de um curso aberto a toda a comunidade da Escola
(alunos, familiares, professores e funcionários) no âmbito
da criação de um Clube de Bridge e com uma estratégia
semelhante à referida para a ESJC, estando ainda a ser
estudadas outras possibilidades. Foram também abordados
aspectos relacionados com a continuidade do projecto, tendo eu
proposto que se aguardasse o impacto que se verificar este ano
antes de definir soluções de continuidade.
Com tudo isto posso realçar o excepcional acolhimento com
que a ideia foi acolhida nas 3 Escolas e as dificuldades com que
provavelmente me irei debater, nomeadamente a falta de disponibilidade
(por vontade delas, eu estaria a tempo inteiro a ensinar Bridge),
e o facto de não haver, nem na FPB nem no Ministério
da Educação, qualquer tipo de institucionalização
do ensino de Bridge nas Escolas.
Estando o projecto em curso, há agora que garantir a maximização
dos resultados. Com isso ganharemos todos: os jovens, a sociedade
em geral, os novos praticantes, eu próprio (ela satisfação
de uma realização que considero útil), os
Clubes para onde serão dirigidos os alunos quando abandonarem
a escola (e que já deram a sua anuência) e também
a FPB. Para já, condições existem, e entusiasmo
para as realizar também.
Assim sendo, tem este ofício a missão de informar
a FPB deste projecto, e de solicitar todo o apoio que puder ser
dispensado.
Posso identificar alguns aspectos onde o apoio da FPB seria bem-vindo:
" Os aspectos e métodos pedagógicos do ensino
aos jovens (de 14 anos e possivelmente de menos idade) são
diferentes dos usados para os adultos pelo que, se estiver agendada
alguma "formação" nesta área, gostaria
de a frequentar. Se não, uma reunião ou qualquer
tipo de informação nesta área seria muito
útil;
" Os jovens, e não só, são muito sensíveis
ao apelo do marketing pelo que material promocional para divulgação
seria excelente;
" Vão ser necessários meios para a realização
dos cursos;
" Acima de tudo, espero orientações e outras
ideias que com a experiência dos elementos da FPB, possam
impedir que se cometam erros desnecessários;
" Por fim, o enquadramento e estrutura desta acção
dentro de um projecto mais vasto que a FPB possa desenvolver junto
do Ministério da Educação com vista a tornar
mais fácil a replicação desta acção
noutras escolas e em anos vindouros.
Não considero este projecto como um projecto apenas meu.
Já envolvi alguns agentes da sociedade e gostaria que a
FPB o considerasse como um projecto também seu e o acarinhasse
da forma que considerasse ser a melhor possível. Por isso,
agradeço desde já todo o apoio que V. Ex.as me puderem
dar, seja ele material ou do ponto de vista organizacional, e
podem ficar cientes do bom acolhimento de todas as vossas sugestões.
Com os meus melhores cumprimentos