Manual de Iniciação ao Bridge

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Capítulo VI - Aberturas em naipe rico - níveis 1 e 2



O desdobramento dos trunfos
Quando estudámos as técnicas de fazer vazas, foi dito que, em contratos de ST, o número máximo de vazas possíveis num determinado naipe era igual ao número de cartas existentes nesse naipe, na mão mais comprida. Com o aparecimento dos contratos trunfados, esta regra sofreu alterações significativas. Atente-se no exemplo seguinte:
Sul joga 4ª

Saída:
§A
ªAV76
©
A842
¨R9
§
753
  A defesa começou por tirar as 3 primeiras vazas em paus e continuou com oiros. O declarante pode contar 9 vazas: 4 espadas, 3 copas e 2 oiros. É necessário encontrar a vaza em falta para cumprir o contrato. Uma primeira solução seria o apuramento da 4ª copa do morto, desde que o naipe esteja distribuído 3-3 no flanco. No entanto, existe uma solução mais simples que é a realização de 5 vazas em trunfo em vez das 4 contabilizadas: para isso basta realizar um corte da 3ª carta de oiros da mão do declarante no morto. Como resultado desta manobra, o declarante realiza na mesma 4 vazas em espadas na mão, às quais junta mais uma vaza do corte realizado no morto!
ª94
©
V10
¨107652
§
ARD8
  ª532
©
9763
¨DV4
§
1092
  ªRD108
©
RD5
¨A83
§
V64
 

O exemplo anterior pode-nos levar a pensar que todo o segredo do carteio em contratos trunfados, reside nos cortes. Mas nem sempre cortar significa aumento do número de vazas:

ª762
©4

Com o trunfo espadas, o declarante tem à sua disposição 5 vazas, no naipe de trunfo, 1 copa e 1 corte a copas na mão com menos trunfos (mão curta), para um total de 7 vazas. Sem o poder do trunfo, o declarante conseguiria fazer apenas 6 vazas: 5 espadas e 1 copa.
Neste exemplo, o corte forneceu ao campo uma vaza suplementar.
¨
ªARDV5
©A7
mas:

ª762
©A7

Com o trunfo espadas, o declarante tem à sua disposição 5 vazas, no naipe de trunfo e 1 copa, para um total de 6 vazas. Isto mesmo que utilize um dos trunfos da mão comprida para efectuar um corte em copas.
Neste exemplo, o corte não forneceu ao campo qualquer vaza suplementar.
¨
ªARDV5
©4

Conclusão:

Regra geral, o corte apenas gera vazas suplementares para o campo, desde que efectuado pela mão curta, ou seja, pela mão com menos trunfos.

Mas, atenção! Os poderes e as vantagens de se jogarem contratos trunfados não estão limitados à criação de vazas suplementares por corte. O trunfo serve também, por exemplo, para impedir a realização de vazas de comprimento pelo campo adversário.

Abrir o corte
Para poder, em determinado momento, efectuar vazas em corte é necessário que se verifiquem dois factores: que a mão tenha trunfos suficientes para efectuar os cortes necessários e que estejam criadas as condições para efectuar os cortes (ausência de cartas em determinado naipe). Abrir o corte é, portanto, eliminar cartas de um determinado naipe por forma a poder efectuar cortes nesse naipe. Se esta condição for criada na mão curta, então o campo poderá gerar vazas suplementares.

ª865
©RV963
¨A832
§V

Se naipe de copas for jogado como em ST, o campo realizará 6 vazas no naipe. Se abrir o corte em espadas, que consiste em jogar 2 vezes o naipe por forma a abrir o corte em Sul, o campo não gera qualquer vaza suplementar, uma vez que o corte é efectuado pela mão mais comprida em trunfo. No entanto, se abrir o corte em paus, poderá realizar 2 vazas em corte com os trunfos de Norte que, por ser a mão curta em trunfo, acrescentam 2 vazas suplementares ao campo: 2 cortes para além das 6 vazas em copas que continuarão a ser realizadas pela mão comprida.
¨
ªD3
©AD10852
¨97
§A72

ªV6
©9863
¨A8432
§95

À partida, o declarante possui apenas 8 vazas: 5 copas, 2 oiros e 1 pau. Eventuais cortes em oiros não irão acrescentar vazas suplementares este pecúlio, uma vez que serão efectuados pela mão comprida. Mas, ao abrir o corte em paus em Norte, jogando §A e outro pau, poderá realizar 2 cortes no naipe, mantendo as 5 vazas de copas na mão de Sul e passando o total de vazas para 10!
¨
ªD3
©ARDV10
¨R7
§A762

Sul joga 6©

Saída:
ªV
ªAD2
©
V85
¨ARV54
§
84
  O declarante tem o seu contrato assegurado, provavelmente com vaza a mais, caso não corra riscos desnecessários: 5 copas, 5 oiros e 3 espadas.
Neste caso, a primeira coisa a fazer é destrunfar, isto é, tirar todos os trunfos em poder dos adversários e, só depois, poderá jogar o naipe de oiros. Não o fazendo, a defesa poderá vir a efectuar um corte a oiros e o
§A, derrotando o contrato.
ªV1098
©
4
¨9862
§
D732
  ª7653
©
9765
¨10
§
AV109
  ªR4
©
ARD102
¨D73
§
R65
 

Sul joga 4©

Saída:
¨R
ª54
©
V63
¨972
§
108752
  O declarante tem 9 vazas certas: 5 copas, 2 espadas, 1 oiro e 1 pau.
A hipótese da 10ª vaza vem de um possível corte a espadas no morto. Uma vez mais o timing vai ser decisivo. Se, a exemplo do jogo anterior, começar por destrunfar, a mão curta ficará sem trunfos, logo sem hipóteses de efectuar o corte. A solução é ganhar a vaza de saída, tirar 2 voltas de trunfo, deixando um trunfo no morto para efectuar o corte necessário. Depois regressa à mão no
§A para tirar o último trunfo em poder de um dos defensores e reclama o seu contrato.
ªV832
©
752
¨RDV8
§
RV
  ªD1097
©
94
¨1065
§
D943
  ªAR6
©
ARD108
¨A43
§
A6
 

Sul joga 6ª

Saída:
§R
ªARD
©
75
¨AD52
§
A842
  À primeira vista, o declarante tem 12 vazas certas: 5 espadas, 2 copas, 4 oiros e 1 pau.
No entanto, existe um problema para resolver: o naipe de oiros está bloqueado, necessitando de uma comunicante exterior ao naipe. No nosso exemplo, essa comunicante só existe no naipe de trunfo. Uma vez mais, o timing de jogo vai ser fundamental: ganha a vaza de saída, tira 2 voltas de trunfo, joga oiro para a mão, desbloqueia o naipe e regressa ao morto no último trunfo para poder usufruir das vazas de oiros. É certo que este plano comporta riscos: se Oeste tiver 3 cartas de trunfo e o singleton em oiros, estará em condições de derrotar o contrato. Mas este é um risco absolutamente necessário pois, caso contrário, o contrato estará irremediavelmente perdido...
ª52
©
D98432
¨7
§
RDV9
  ª943
©
V106
¨1098643
§
10
  ªV10876
©
AR
¨RV
§
7653
 

Concluindo:

Em contratos com trunfo é prioritário destrunfar (tirar os trunfos em poder dos adversários), excepto se:
» tal manobra impedir o desdobramento dos trunfos, impossibilitando os cortes necessários na mão curta em trunfo.
» privar o campo das comunicantes necessárias à realização do contrato.



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