ÉPOCA 2005-2006 EM REVISTA
Ao terminar mais uma época desportiva, parece-me útil deixar aqui algumas palavras sobre os factos, em minha opinião, mais relevantes. Para tal vou dividir a minha análise em vários itens, a saber: o bridge federado, os festivais de bridge, a actividade dos clubes, em geral, e a actividade do Quinto Naipe, em particular.
A) BRIDGE FEDERADO
Foi uma época longa e recheada de vicissitudes. Mais do
que referir casos já muito debatidos, convirá lançar
um olhar global sobre o edifício federativo. Dessa análise
ressalta, antes de mais, a drástica redução
do número de filiados. Porquê, é algo a que
urge responder: não encontrando as causas, não será
fácil inverter a tendência. Na minha opinião,
as razões da doença estão muito longe de
se esgotarem em análises simplistas, tipo "o culpado
é..."!
Em primeiro lugar, há que reflectir sobre a implementação
dos novos estatutos federativos. Parece-me evidente que as profundas
alterações encontraram um universo completamente
inadequado para as suportar e para delas tirar os proveitos desejados:
por um lado, as Associações Regionais, com realidades
muito diferentes de região para região e muitas
delas com pouca tarimba e escassos meios materiais e humanos;
por outro lado os clubes que, na sua maioria, não tinham
e não têm ainda estruturas para assumir o papel de
motores principais da modalidade que os estatutos lhes conferem.
Há que perceber, antes de mais, que não se tratou
de uma simples alteração estatutária, para
ficar quase tudo na mesma, mas sim de uma revolução
que implica que tudo, ou quase tudo, tenha de mudar. Mas estas
mudanças radicais exigem que se criem condições
para as sustentar. Atente-se, por exemplo, na distribuição
do boletim federativo: antes era distribuído, por correio,
pela FPB, aos seus filiados. Actualmente, o boletim é enviado
para os Clubes ou para as Associações Regionais
e só depois fica à disposição dos
filiados. Resultado deste novo circuito é que muitos filiados,
principalmente os menos assíduos nas actividades desportivas,
nunca o chegam a receber. Não interessa discutir se o boletim
é bom ou mau, se tem pouco ou muito interesse: para muitos
filiados ele era o único elo de ligação com
o bridge federado e o elo quebrou-se. Se ao boletim juntarmos
o livro das provas, as convocatórias para as A.G., etc...,
temos um problema multiplicado por "n" factores, logo
agravado "n" vezes.
Em segundo lugar, a política desportiva implementada pela
actual Direcção não ajudou, em meu entender,
a cativar novos filiados ou filiados com menos ambições
desportivas, que mantinham com o bridge federado uma relação
quase meramente sentimental. Uma política de isenções
desastrosa e restrições de acesso a algumas provas
do calendário oficial, com base em critérios artificiais,
foram alguns dos factores que contribuiram para o sentimento generalizado
de que o bridge nacional se vai centrando numa élite de
jogadores, subvertendo a estrutura lógica de qualquer modelo
desportivo.
Em terceiro lugar, foi ganhando cada vez mais força a ideia
de que F.P.B. e Associações Regionais, em vez de
serem partes de um edifício único e solidário,
se iam constituindo como organismos concorrentes, quando não
mesmo antagónicos.
Por último os clubes, aos quais foram endereçadas
novas responsabilidades para que não estavam apetrechados
e, em muitos casos, sequer motivados. Na ponta mais baixa de toda
esta teia, está o filiado comum: o mesmo que, geralmente,
não participava activamente na vida federativa, mas que
se sente agora muito mais longe do vértice da pirâmide,
num papel cada vez mais secundário. Um peso quase morto
quanto ao papel que desempenha no colectivo. E isto era, segundo
creio, o que, prioritariamente, os novos estatutos se propunham
combater.
Confesso que estou agora muito mais céptico relativamente
aos estatutos do que estava aquando da sua discussão e
aprovação (para a qual, aliás, contribuí
com o meu voto). Mas estou muito longe ainda de estar convencido
que a boa solução seja voltar atrás. Continuo
a acreditar que este modelo tem um enorme potencial. Mas para
o explorar é necessário e urgente fazer o balanço
destes anos de novo regime, de ouvir os principais interlocutores
no processo e de encontrar as soluções adequadas
para parar com a desertificação da modalidade.
Muitas foram as ocasiões
em que manifestei a minha discordância com algumas das políticas
federativas, nomeadamente, na área desportiva. Mas também
foram várias as vezes em que me senti na obrigação
de estar ao lado destes dirigentes, sempre que a saudável
divergência de opiniões resvalou para ataques buçais.
Quem empresta à causa pública a sua disponibilidade,
o seu trabalho e a sua dedicação, não pode
estar ao alcance de ataques mais ou menos terroristas, muitos
vezes covardemente anónimos, que atingem a honra e a dignidade
dos visados. E neste capítulo, volto a repetir, (quase)
não há inocentes: os que ofendem e caluniam alimentam-se
no ensurdecedor silêncio, a roçar a conivência,
de quem assiste a estes episódios com estudada indiferença.
Ou seja, (quase) todos nós!
Ou rapidamente encontramos forma de combater este frequente resvalar
da discussão para o "chinelo" ou, mais dia menos
dia, sobrará apenas uma qualquer comissão liquidatária
para o bridge nacional.
O aspecto mais marcante da actual gestão federativa foi, sem dúvida, a organização dos Campeonatos do Mundo em Portugal: Bermuda Bowl, Venice Cupe e Seniors Bowl, para além do Transnacional com participação recorde. Um feito histórico, com o comportamento das diferentes representações nacionais a ajudarem à festa, alcançando alguns patamares competitivos, à partida, considerados utópicos. O bridge nacional foi, por momentos, a estrela da companhia. Já o fiz, publicamente, por diversas vezes mas não será demais repeti-lo: OBRIGADO à Direcção da FPB e a todos os que contribuiram para os momentos inolvidáveis que vivemos no Pavilhão de Congressos do Estoril!
A actual época desportiva finda ainda com algumas nuvens no horizonte: a demissão de Paula Lima e Rui Silva Santos constituem baixas de vulto no elenco federativo. Tal como já o fiz noutro local, manifesto aos dois a minha solidariedade e, como filiado, o meu agradecimento pelo trabalho desenvolvido em prol da modalidade. Espero, sinceramente, que a Direcção da F.P.B. consiga encontrar soluções para ultrapassar a situação. A Paula e o Rui encontrarão, por certo, outras formas de continuar a emprestar à modalidade a sua competência e dedicação.
B) FESTIVAIS DE BRIDGE
Ao longo desta época tem-se agravado a tendência
para uma diminuição significativa de participantes
nos Festivais, mesmo naqueles com maior implantação
e tradições. A este facto não será
alheia, em primeiro lugar, a crise geral que o bridge atravessa,
mas, sobretudo, a crise económica que o País enfrenta.
O facto, é que jogar um festival de bridge tem hoje um
peso muito mais significativo para a maioria das bolsas que tinha
há uns anos atrás, apesar dos preços de inscrição
se terem mantido sem aumentos significativos. Mas é indiscutível
que o dinheiro está muito mais caro. A solução
para este problema não passa, obviamente, pelo bridge.
Mas, em meu entender, será possível minimizar alguns
danos apostando, nomeadamente, em torneios de 2 sessões
e numa melhor distribuição dos prémios em
disputa, para além das inovações técnicas
e numa maior atenção à componente social
destas iniciativas.
Os festivais são um factor importante na modalidade: atraem
patrocinadores, têm, em muitos casos, algum impacto mediático
e, sobretudo, porque permitem o contacto entre jogadores de diferentes
regiões e níveis técnicos. Com alguma imaginação,
será certamente possível melhorar o actual panorama.
Mas não penso que o quadro seja tão negro como alguns
o querem pintar, até porque, mesmo em períodos difíceis,
novos projectos vão surgindo.
C) BRIDGE NOS CLUBES
Em minha opinião, é a actividade dos clubes o fiél
da balança na modalidade. Os motivos são vários
e todos eles óbvios: é através dos clubes
que o bridge conquista novos adeptos, a integração
de novos praticantes é mais fácil através
de um meio mais familiar como deve ser o clube de bridge, onde
se criam mais facilmente empatias (é certo que também
algumas antipatias...), é mais fácil reforçar
o sentido de colectivo através de um meio mais pequeno
e, portanto, menos agressivo, etc...
Pelo que me é dado observar, a vida dos clubes de bridge
não tem sido fácil nestes últimos tempos.
Em primeiro lugar porque lhes surgiu um concorrente de peso chamado
«Internet», com os clubes online, principalmente o
BBO a "roubarem" muitos praticantes aos clubes tradicionais.
Mas, no meu entender, as causas para este "boom" do
bridge virtual, onde não se sente o toque das cartas, nem
o prazer do contacto pessoal é, em boa parte, justificado
pela inépcia de muitos clubes em lidar com a situação.
A oferta dos clubes tem de privilegiar a componente social do
bridge, o bem-estar dos praticantes, a criação de
condições para um ambiente informal e com boa disposição.
Há que perceber que os motivos que levam hoje as pessoas
a sair de suas casas para se deslocarem ao clube de bridge a fim
de participarem num torneio de regularidade, são muito
diferentes dos de antigamente. Agora a componente meramente competitiva
tem de ceder terreno ao espaço lúdico. A resposta
dos clubes de bridge à "ameaça" do bridge
online tem de ser dada através do prazer: o prazer de encontrar
pessoas que nos são simpáticas, o prazer de conviver
durante um serão num bom ambiente, o prazer de sentirmos
que não somos apenas um número no balancete contabilístico
mensal.
Muitos advogam que a crise se justifica pela existência
de demasiados clubes. Este é, em minha opinião,
um falso argumento. Vejamos alguns factos: em Lisboa, existem
torneios de regularidade, às 2ª feiras, no CBL, no
CPB e no Palácio Fronteira e, às 5ª feiras,
na AFAP, no CBL e no CPB. Em média, participam nestas provas
entre 50 a 60 pares, em cada um dos dias. Isto sem contar com
as provas de equipas no Paris Bridge, que se realizam às
5ª feiras, com frequências médias de 10 mesas.
Quando operavam apenas os 2 clubes mais antigos de Lisboa, CBL
e CPB, as frequências raramente ultrapassavam os 40 pares.
Sendo certo que muitos dos habituais frequentadores dos torneios
de regularidade se renderam aos encantos do bridge online, teremos
de concluir que os novos clubes vieram trazer mais gente ao bridge.
Por outras palavras, não fora o aparecimento destes novos
espaços e, porventura, a crise seria bem mais acentuada.
Por outro lado, se analisarmos de forma desapaixonada os números,
facilmente verificamos que é exactamente nos novos espaços
de bridge que surge uma boa parte dos novos filiados e que são
estes espaços que lideram as médias de frequência
ao nível nacional. A tudo isto há que juntar os
circuitos especiais, com periodicidade mensal, do Clube dos Engenheiros,
com frequências médias entre os 35 e os 40 pares,
da Associação 25 de Abril, entre os 20 e os 25 pares
e do Clube Ténis do Estoril (BPI), entre os 30 e os 35
pares. A Associação dos Antigos Alunos do Colégio
Militar leva ao seu torneio anual mais de 70 pares!!! Para não
ser acusado de falar apenas de Lisboa (que me desculpem os demais,
mas estes são os factos que eu conheço bem), destacarei
o excelente trabalho que está a ser feito na Madeira, bem
expresso no aumento significativo do número de praticantes
filiados e na frequência nas suas provas de regularidade.
No Porto, se bem que se esteja a viver um período muito
difícil, tenho razões para acreditar que a situação
se irá, em breve, inverter. Há gente nova, com ideias
novas, em movimento. Os resultados vão aparecer! O mesmo
se passa em Coimbra, no Clube Tiro e Sport e não só.
Mas há também a Figueira da Foz, com um novo clube
de bridge pronto a nascer, o Clube Nacional de Ginástica,
na Parede, com um projecto muito interessante e alguns núcleos
de empresa, dos quais destaco a secção de bridge
do Grupo Desportivo do Banco de Portugal. Ou seja, os tempos são
difíceis, mas o bridge está vivo!
Quando soubermos encontrar a solução para integrar
todos estes projectos num esforço único de desenvolvimento
sustentado da modalidade, quando aprendermos a viver com as nossas
diferenças e a respeitar o trabalho alheio, quando se deixar
de entender que a culpa dos nossos insucessos tem a ver com o
sucesso dos nossos vizinhos, quando conseguirmos levar para o
debate público as virtudes deste jogo fascinante em vez
das questiúnculas pessoais e mesquinhas, o bridge irá,
finalmente, dar o salto que todos dizemos ambicionar mas que alguns
parecem apostados em querer travar. Os períodos de crise
aguçam, normalmente, o engenho e a arte dos homens e mulheres.
Por isso estou optimista!
Aos responsáveis pelos clubes de bridge, de Norte a Sul
do País, daqui envio as minhas saudações
desportivas e os meus votos de muito sucesso nos vossos projectos.
D) ACTIVIDADES DO QUINTO
NAIPE
O grupo Quinto Naipe termina mais uma época desportiva,
orgulhoso pelo trabalho realizado e, como sempre, consciente que
pode e deve fazer melhor. Sobre os factos mais relevantes da nossa
actividade, destaco:
1. Decidimos terminar o projecto que nos ligava ao Ginásio
Clube Português e que, durante 2 anos, se assumiu como um
projecto inovador na área da formação, tornando-se
no segundo maior clube nacional em número de filiados,
sendo que cerca de metade, eram novos filiados na FPB.
2. Morreu o projecto mas não se perderam as sinergias criadas
já que, a convite do Clube de Bridge da AFAP, o grupo assumiu
funções na sua direcção desportiva.
Ao fim de 7 meses de trabalho os resultados não poderiam
ser mais animadores: o clube rapidamente assumiu a liderança
dos torneios de regularidade, às 5ª feiras e, com
45 filiados, tornou-se num dos maiores clubes nacionais. Em colaboração
com a ARBL e com o Clube Nacional de Ginástica, organizámos
um encontro entre os 2 clubes que, para além da parte desportiva,
constituiu uma excelente jornada de convívio e de propaganda
para a modalidade. O período de férias será
aproveitado para preparar a próxima época desportiva,
para a qual prometemos várias novidades.
3. A convite da empresa Bruno de Carvalho, o grupo Quinto Naipe
assumiu a direcção técnica de um circuito
de bridge em simultâneo. A iniciativa, que durou 6 meses,
contou com a participação de 4 clubes e registou
um participação média próxima dos
60 pares.
4. Terminado o projecto de parceria com a Bruno de Cravalho, o
Quinto Naipe decidiu manter a organização de torneios
em simultâneo, dando início a um novo projecto que
já está no terreno.
5. A propósito dos simultâneos, parece que a iniciativa
incomodou a concorrência que, provavelmente para justificar
as significativas diferenças nas frequências, se
decidiu por uma inovadora estratégia de marketing, com
contornos que não vou comentar. Apenas queremos dizer que
os projectos desenvolvidos pelo Quinto Naipe não estão,
nem estarão, de nenhuma forma, condicionados por este tipo
de atitudes. As nossas atenções estão exclusivamente
concentradas no cumprimento dos serviços que nos são
confiados. Sabemos os terrenos que pisamos, temos absoluta confiança
na nossa capacidade técnica e dispensamos os paternalismos
e as suspeitas avaliações da concorrência.
Sempre que sentirmos necessidade de melhorar os nosso conhecimentos,
seremos nós a escolher o professor! O que é deveras
importante é dar resposta às solicitações
e expectativas de quem confia em nós. O resto é
fumaça...
Respeitamos e admiramos o trabalho desenvolvido por todos os outros
operadores, porque entendemos que os diferentes projectos existentes
no bridge nacional são importantes para o desenvolvimento
da modalidade.
6. No final do ano de 2005 registámos o acesso 100.000
à nossa página online, ao fim de 5 anos de actividade.
Foi um marco importante para nós, por reflectir o interesse
da comunidade bridgística no trabalho que desenvolvemos.
Sete meses depois, o número de acessos subiu de forma quase
vertiginosa, com mais de 31.000 acessos neste período.
Estes números deixam-nos muito orgulhosos mas também
com um acrescido sentimento de responsabilidade. O subir da fasquia
significa que as pessoas esperam agora mais de nós. Tudo
faremos para estar à altura do desafio.
7. O grupo manteve, ao longo desta época, o apoio técnico
de arbitragem aos torneios do Clube de Bridge dos Engenheiros,
Associação 25 de Abril, Clube de Ténis do
Estoril, Associação Antigos Alunos do Colégio
Militar e Clube de Bridge do Baleal.
8. Ao nível de festivais, mantivémos a nossa colaboração
nos festivais algarvios do Tivoli Marinotel, em Vilamoura e do
Hotel Algarve Casino, na Praia da Rocha e no torneio de Huelva.
9. Nas áreas de formação, num projecto de
parceria com a Escola de Bridge, o grupo tem dado apoio a inúmeras
iniciativas nesta área, sendo uma das nossas mais fortes
apostas. Esta época passámos a organizar torneios
em simultâneo para jogadores iniciados, sem qualquer encargo
para os clubes aderentes. Este projecto ir-se-à mantere
e, por certo, intensificar na próxima época.
Para os nossos amigos e para os nossos inimigos, a certeza de que estamos aqui e não apenas por aí! E aqui estaremos, enquanto isso nos der prazer e enquanto os índices de satisfação com o nosso trabalho se mantiverem em alta. Aos muitos praticantes que, das mais diversas formas, nos vão fazendo chegar palavras de incentivo ao trabalho que realizamos os nossos agradecimentos e a nossa promessa de continuar a tudo fazer para corresponder às vossas expectativas.
Boas férias a todos!
Luís Oliveira